A Síndrome da Banda Iliotibial (Runner’s Knee)

29 de março de 2018 | Por

A banda iliotibial (BIT) é uma faixa de tecido fibroso que se origina no osso da bacia (crista ilíaca) e a partir dos músculos tensor da fáscia lata, glúteo máximo e médio e termina na tíbia e na fíbula.

A síndrome da banda iliotibial (SBIT) é uma lesão por sobrecarga da BIT. A inflamação surge na parte lateral do joelho e se caracteriza por dor localizada na extremidade da BIT próximo ao fêmur.

A síndrome da banda iliotibial (SBIT) é a segunda lesão mais comum na corrida. É a principal causa de dor lateral no joelho em corredores e é responsável por aproximadamente um décimo de todas as lesões. Um aumento na SBIT foi observado na última década e pode estar relacionado ao aumento do número de corredores em todo o mundo. Entre os corredores, 1,6 a 12% apresentam a SBIT ao menos uma vez durante a atividade esportiva e, portanto é chamada também de “Runners’Knee” (joelho do corredor).

Durante a corrida, ocorrem em torno de 1800 impactos/km absorvidos em parte pelo mecanismo de flexão e extensão do joelho. Ao flexionarmos o joelho, em torno de 30º, a BIT posiciona-se posteriormente ao epicôndilo lateral do fêmur, enquanto que durante a extensão, a BIT passa a posicionar-se à frente do epicôndilo lateral do fêmur. Acredita-se que a causa da SBIT seja multifatorial e a patologia subjacente é pouco compreendida. Uma perspectiva histórica é que a SBIT é causada por fricção excessiva da banda iliotibial distal à medida que se move sobre o epicôndilo femoral lateral durante a flexão e extensão repetitiva do joelho. Uma teoria mais recente da causa é o impacto da banda iliotibial contra o epicôndilo femoral lateral em aproximadamente 20-30° de flexão do joelho.

O sintoma principal é a dor na região lateral do joelho, localizada 2 a 3 cm acima da linha articular. O início da dor se manifesta durante a corrida, que piora progressivamente e limita a distância programada ou as velocidades mais altas. A dor pode piorar ainda mais nas subidas ou descidas e fazer o atleta parar. Após alguns minutos de repouso, a dor desaparece espontaneamente, mas logo reaparece após o início de uma nova corrida. A insistência em correr com a dor pode agravar a inflamação, causando também irradiação da dor para cima ou abaixo do joelho e inchaço com crepitação (estalidos).

Alguns testes clínicos são realizados com o objetivo de identificar o foco da dor, como:
* Identificação e compressão do local, provocando a dor
* Dor ao movimento de flexo-extensão do joelho sem apoio ou com apoio de um pé só (monopodálico)
* Dor ou incapacidade de realização de um salto monopodálico

O tratamento clínico abrange o controle da dor através do uso de analgésicos, antiinflamatórios ou até infiltrações com corticosteróides. O repouso relativo até que ocorra uma melhora dos sintomas é importante para que o tratamento seja eficiente.

A fisioterapia abordará métodos de controle da dor (gelo, exercícios de alongamento). A hidroterapia por sua vez pode ser também empregada.

Após a melhora da dor, devemos lembrar de corrigir movimentos da corrida, atenção aos fatores predisponentes e tentar corrigi-los.

Raramente a cirurgia está indicada, sobretudo quando não houver sucesso no tratamento clínico.

Fatores anatômicos como diferenças no comprimento das pernas, o gelo varo (joelho em arco), o pé cavo e o aumento da proeminência dos epicôndilos laterais também foram observados como possíveis fatores não modificáveis ​​associados à SBIT. Fatores modificáveis, como redução da flexibilidade e fraqueza muscular, particularmente dos músculos abdutores do quadril, também podem estar associados à SBIT. Infelizmente, a evidência de que qualquer um desses fatores esteja associado ao desenvolvimento de SBIT permanece limitada e inconsistente.

Alterações biomecânicas podem estar relacionadas a SBIT em corredores. Os resultados de duas revisões sistemáticas sugerem diferenças biomecânicas em corredores com a SBIT em comparação com corredores saudáveis. Louw e Dreary propuseram que os segmentos proximais, isto é, o movimento no plano sagital e frontal da articulação do quadril, poderiam ser ligados a SBIT.

O achado de Aderem e Louw, através da análise quantitativa a partir de estudos transversais, mostrou que corredores do sexo feminino com SBIT parecem ter um pico da rotação interna do joelho e um o pico de flexão ipsilateral do tronco durante a fase de apoio da corrida em comparação com corredores saudáveis. As metanálises para pico de adução de quadril, pico de momento abdutor do quadril e pico de queda pélvica contralateral entre corredores femininos com SBIT e corredores eram insignificantes.

Neste momento, não se pode fazer recomendações clínicas conclusivas, mesmo para o pico de rotação interna do joelho e pico de flexão ipsilateral do tronco, devido ao número limitado de estudos, pequenos tamanhos de efeito e deficiências metodológicas.

A evidência de fatores que podem predispor os corredores ao desenvolvimento de SBIT permanece limitada a um único estudo que indicou que corredores do sexo feminino que desenvolveram a SBIT apresentavam pico de adução do quadril e aumentavam o pico de rotação interna do joelho durante o fase de apoio da corrida. Apesar dessas deficiências, a revisão de Aderem e Louw resumiu as melhores evidências disponíveis para orientar decisões clínicas ou planejar pesquisas futuras.

Os médicos devem “talvez considerar” o rastreamento para aumento da rotação interna do joelho e adução do quadril para evitar o desenvolvimento de SBIT entre corredores do sexo feminino. Devido à origem proximal da BIT no quadril e sua inserção distal no tubérculo de Gerdy no joelho, padrões de aumento da adução do quadril e rotação interna do joelho pode aumentar a quantidade de tensão e tensão na BIT.

A BIT auxilia na abdução do quadril e é alongado em adução. Adução do quadril aumentada e rotação interna do joelho podem ser decorrentes de fatores como: controle neuromuscular fraco, fraqueza dos músculos abdutores do quadril, rigidez articular do quadril ou joelho, restrições miofasciais da musculatura circundante ou controle somato sensorial alterado.

Os resultados das metanálises mostraram que corredores do sexo feminino com SBIT podem apresentar aumento do pico de rotação interna do joelho e aumento do pico de flexão ipsilateral do tronco. Embora isso apresente as melhores evidências até o momento, os médicos devem observar que a diferença entre os grupos para rotação interna do pico do joelho foi de 2,5 graus e para o pico de flexão ipsilateral do tronco foi de 1,24 graus. Essas pequenas diferenças podem, portanto, não ser clinicamente significativas, pois poderiam simplesmente refletir um erro de medição. Embora os clínicos devam considerar esses fatores na prática clínica (por refletir a melhor evidência disponível atualmente), o raciocínio clínico ainda deve ter um papel vital na tomada de decisões clínicas para corredores com SBIT.

Também foi observado por que os resultados biomecânicos (pico de flexão do joelho, tempo de pico de flexão do joelho e pico de eversão do retropé) podem depender de os corredores usarem calçados ou correrem descalços durante uma captura experimental. Além disso, as diferenças entre os calçados também afetarão os resultados biomecânicos. Os médicos que realizam a análise da marcha devem considerar o tipo de calçado e se os calçados devem ser utilizados ​​durante a avaliação. Esta é uma recomendação importante para a reavaliação do mesmo corredor, pois pode ter um efeito sobre os resultados do teste de análise da marcha.

Não há há consenso atual para a prevenção da SBIT e a gravidade da SBIT está diretamente relacionada ao tempo de existência da lesão sem diagnóstico ou tratamento adequado.

 

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