Síndrome Compartimental Crônica.

9 de julho de 2017 | Por

Muitos atletas queixam-se de dores nas pernas durante ou após a corrida. As causas das dores nas pernas são as mais variadas, desde a dor muscular tardia (DMT), as lesões musculares, as inflamações (tendinites, bursites), as lesões ósseas (fraturas de estresse, síndrome do estresse tibial medial) e até as compressões nervosas ou vasculares.

Os músculos da perna estão distribuídos em quatro compartimentos (espaços definidos por osso e fáscia).

Definimos a Síndrome Compartimental Crônica (SCC) como uma condição de aumento da pressão dos tecidos dentro de um compartimento fechado delimitado por osso e fáscia, que ocorre durante o exercício.

SCC é uma das causas de dor na perna decorrente do exercício físico descrita em militares, esportistas ocasionais, atletas amadores e de elite.

O difícil diagnóstico clínico decorre do fato dos sinais e sintomas serem semelhantes a outras doenças e lesões freqüentes.

Os sintomas são restritos ao período da atividade física, portanto não há sintomas durante o repouso (antes do exercício).

Os corredores são os esportistas mais acometidos pela SCC, principalmente nas idades entre 30 e 40 anos.

A literatura descreve que 15% dos corredores competitivos e 5% dos recreativos apresentam a SCC em algum grau.

Alguns fatores podem ser considerados predisponentes para o desenvolvimento da SCC:

  • Traumatismos de baixa intensidade
  • Inflamações crônicas
  • Hérnias musculares
  • Hipertrofia muscular induzida pelo uso de esteróides anabolizantes.

O aumento da pressão de um ou mais compartimentos acima dos níveis normais provoca uma redução do fluxo sanguíneo local, causando dor e alteração da função do músculo.

O aumento crônico anormal da pressão de um ou mais compartimentos durante o exercício promove um espessamento da fáscia muscular e um desarranjo da fibra muscular, podendo gerar uma lesão irreversível.

Os sintomas mais comuns são:

  • Dor na perna durante a corrida, mesmo em distâncias curtas, de caráter progressivo, levando à necessidade de parar de correr.
  • Tensão aumentada na perna (sensação de inchaço)
  • Limitação da movimentação do tornozelo
  • Sensação de fraqueza muscular
  • Modificações na sensibilidade local.
  • Desaparecimento dos sintomas com o repouso (10 a 15 minutos após interromper a corrida).
  • O atleta geralmente consegue determinar o tempo de corrida capaz de gerar estes sintomas.

Os estudos diagnósticos incluem métodos de imagem, porém o método ideal é a medida direta das pressões dos compartimentos nos períodos pré e pós exercício.

Cerca de 50% dos casos de SCC apresentam múltiplos compartimentos afetados e 75% das vezes são bilaterais (ambas as pernas).

Dentre as formas de tratamento, a fasciotomia (descompressão cirúrgica do compartimento) é o tratamento de escolha para os atletas desejosos de manter os níveis de treinamento praticados e apresenta bons e excelentes resultados em 60-100% dos casos, enquanto que o tratamento clínico apresenta-se insatisfatório na maioria das vezes.

Os mecanismos geradores da SCC ainda são parcialmente desconhecidos e as estratégias de prevenção são relativamente incertas.

Fique atento e respeite os seus sintomas, pois eles são seus aliados na busca de uma corrida melhor.

Boa corrida!