As medidas de avaliação da dor.

11 de julho de 2017 | Por

A dor apresenta basicamente três dimensões de expressão: a sensorial-discriminativa a motivacional-afetiva e a cognitiva avaliativa, sustentadas por sistemas especializados no sistema nervosa central (SNC).

Embora a dor apresente um sensação individual e subjetiva, ao longo do tempo algumas ferramentas foram criadas para medí-la, a ponto de podermos quantifica-la em cada momento, compará-la entre momentos diferentes de um mesmo indivíduo ou mesmo entre indivíduos.

O limiar de dor difere entre cada indivíduo e significa a amplitude de uma estimulação dolorosa que o indivíduo pode resistir de forma aceitável. A tolerância à dor também difere entre cada indivíduo, o que torna as intensidades e as limitações decorrentes da dor, extremamente variáveis, podendo ser modificadas por traços culturais, emocionais e motivacionais.

O sistema límbico é um dos moduladores da resposta comportamental à dor. A interpretação da informação dolorosa baseia-se nas experiências pregressas, podendo gerar respostas diferentes entre indivíduos ou em momentos diferentes do mesmo indivíduo.

As medidas de avaliação da dor podem ser divididas em unidimensionais e multidimensionais. As medidas de avaliação unidimensional representam escalas de identificação direta por meio de números ou imagens que representam a intensidade da dor. Dentre as escalas existentes, citamos a escala visual analógica (EVA), a escala de estimativa numérica e a escala de face de Wong-Baker para uso com crianças.

A escala visual analógica é caracterizada como uma reta de 10 cm com palavras-chaves nas extremidades: sem dor e pior dor imaginável. A escala numérica de 0 a 10 recebe a preferência entre profissionais da área médica e indica facilmente o nível da dor experimentado pelo paciente no momento da avaliação. Como exemplo, o nível “0” significa ausência de dor, enquanto que o nível “10” significa a pior dor imaginável ou sentida pelo indivíduo em toda a vida. Outra grande vantagem da utilização da escala visual analógica é o acompamento do quadro doloroso e a avaliação periódica de melhora ou piora em decorrência do tempo, das atividades realizadas (atividades de vida diária, esportes) ou das ações de tratamento (medicamentos, cirurgia, reabilitação, repouso).

As medidas de avaliação multidimensional abordam questionários e prontuários de percepção da dor e representam avaliações mais complexas do paciente. O Questionário Breve de Dor McGill, traduzido e validado para o Brasil, propicia a identificação do caráter da dor (nociceptivo, neuropático ou misto)

O Questionário Breve de Dor McGill é constituído por quatro grupos,(8) sen- sitivo-descriminativo, afetivo-motivacional, cognitivo-avaliativo e miscelânea, 20 subgrupos e 78 descritores, conforme abaixo:

  • Grupo sensorial-discriminativo: subgrupos de 1 a 10, refere-se às propriedades mecânicas, térmicas, de vividez e espaciais da dor
  • Grupo afetivo motivacional: subgrupos de 11 a 15, descreve a dimensão afetiva nos aspectos de tensão, medo e respostas neurovegetativas
  • Grupo cognitivo-avaliativo: subgrupo 16, permite expressar a avaliação global da experiência dolorosa

Subgrupos de 17 a 20 compreendem itens de miscelânea. Cada descritor apresenta um número que indica sua intensidade. A partir do Questionário de McGill, pode-se chegar às seguintes medidas: número de descri- tores escolhidos e índice de dor. O número de descritores escolhidos corresponde às palavras que o doente escolheu para explicar a dor. O maior valor possível é 20, pois o doente só pode escolher, no máximo, uma palavra por subgrupo.

O índice de dor é obtido através da somatória dos valores de intensidade dos descritores escolhidos. O valor máximo possível é 78. Estes índices podem ser obtidos no total e para cada um dos quatro componentes do questionário: padrão sensitivo, afetivo, avaliativo e subgrupo de miscelânea.

É fundamental que haja uma comunicação da dor pelos indivíduos aos profissionais da área de saúde para uma melhor compreensão do quadro, e introdução de medidas analgésicas e adequada avaliação da eficácia terapêutica. No esporte, ignorar a dor pode trazer como consequências diretas o surgimento ou o agravamento de lesões.

O atleta de alto rendimento, devido às altas exigências físicas e mentais a que se submete diariamente, “convive” com quadros dolorosos, mas normalmente é amparado por uma equipe multidisciplinar para diagnóstico, tratamento e prevenção de lesões existentes ou potenciais.

Nos últimos anos houve um aumento das evidências científicas que promovem as recomendações sobre o diagnóstico e controle da dor, publicados em artigos, anais de eventos e guidelines. A formação dos profissionais da saúde sobre a abordagem da dor deve receber atenção especial na graduação universitária, além de atualização constante de conceitos e métodos de tratamento e prevenção. Estes são pré-requisitos fundamentais para uma boa formação de profissionais da área.

A compreensão, prevenção e tratamento dos fenômenos dolorosos exige do profissional da saúde pré-requisitos básicos sobre a fisiopatologia da dor, o diagnóstico clínico, a interpretação adequada dos exames subsidiários e dos métodos de imagem complementares, além do conhecimento específico do esporte, mediante a observação e conhecimento das características fisiológicas e biomecânicas.

As queixas dolorosas mais comuns na prática de esportes apresentam histórias e fenômenos concomitantes variados, tais como:

  • dor súbita localizada ou difusa após traumatismo direto ou indireto
  • dor que piora durante o movimento ou a compressão local
  • dor não articular acompanhada ou não de inchaço e aumento da temperatura da pele
  • dor desproporcional aos esforços executados
  • dor articular, inchaço, limitação de movimento ou sensação de bloqueio
  • dor articular, acompanhada de inchaço, limitação de movimento, aumento da temperatura local, eritema da pele
  • dor articular, acompanhada de falseio ou perda de estabilidade
  • estalidos articulares dolorosos (joelho, tornozelo e quadril)
  • dor difusa que piora durante a realização de movimentos ou alongamentos
  • dor acompanhada de distúrbios da sensibilidade (parestesia, disestesia)
  • dor acompanhada de diminuição da força muscular a adesão ao tratamento da dor no meio do esporte é variável

Os esportistas que mais aderem ao tratamento da dor são geralmente os profissionais em parte devido às obrigações contratuais e a necessidade de um retorno rápido ao trabalho. Esportistas amadores e ocasionais falham mais na adesão ao tratamento.

O diagnóstico tardio dos sintomas dolorosos, a não adesão ao tratamento proposto e o retorno precoce às atividades físicas sem a autorização médica são algumas das situações frequentemente encontradas no tratamento da dor nas lesões esportivas. A dor crônica no esporte pode representar dentre outras causas, a consequência da falta de diagnóstico e má adesão ao tratamento das dores agudas no esporte.