As lesões musculares mais comuns nos jogadores de futebol

14 de junho de 2018 | Por

Estima-se que o custo financeiro de um jogador de futebol profissional afastado dos jogos por um mês equivale a uma média de € 500.000 (UEFA). Considerando que este valor é uma média, o custo para uma estrela do esporte é muitas vezes incalculável. 

Uma das consequências potenciais importantes para um jogador que sofre uma lesão é o efeito sobre a sua saúde física e mental até o retorno às condições normais de jogo.

A maioria das lesões musculares (92%) está localizada nos quatro grandes grupos musculares dos membros inferiores (isquiotibiais, quadríceps, adutores e tríceps da perna). Um time profissional de futebol masculino, formado tipicamente por 25 jogadores, pode esperar cerca de 16 lesões musculares que levam ao afastamento dos jogos e treinamentos a cada temporada.

As lesões musculares também ocorrem em uma taxa elevada entre jogadores de elite e jogadores amadores. O espectro de lesões musculares em jogadores amadores é essencialmente similar aos jogadores masculinos de alto nível, onde as lesões do quadríceps podem ser mais frequentes na adolescência do que na idade adulta.

A lesão dos músculos isquiotibiais é o tipo mais comum de lesão que leva ao afastamento do atleta dos treinamentos, representando 12% de todas as lesões no futebol profissional masculino. No estudo de Ekstrand et al. (2011), 37% de todas as lesões musculares acometiam os músculos isquiotibiais, sendo que a taxa de lesões durante uma partida foi quase nove vezes maior do que durante o treinamento. Isto significa que um time de 25 jogadores de futebol profissional masculino podem esperar cerca de seis lesões nos músculos isquiotibiais em cada temporada. Estudos que incorporam métodos de diagnóstico por imagem mostraram que uma clara maioria dessas lesões envolve a cabeça longa do músculo bíceps femoral, ou seja, a típica “lesão do velocista“.

Outros estudos sobre jogadores de alto nível do sexo masculino relataram achados similares aos descritos acima. No entanto, dois estudos sobre jogadores universitários dos EUA encontraram uma taxa menor de lesões nos músculos isquiotibiais em jogadores do sexo feminino, enquanto um estudo sobre jogadores de elite suecos não observou diferenças nas taxas de lesões isquiotibiais quanto ao sexo. 

A lesão do músculo quadríceps representa 5% de todas as lesões do futebol com relação ao tempo de afastamento do esporte e 19% de todas as lesões musculares no futebol profissional masculino, o que significa que uma equipe de 25 jogadores pode esperar ter cerca de três lesões do músculo quadríceps a cada temporada. Semelhante aos achados para as lesões nos músculos isquiotibiais, a taxa de lesões durante a partida é mais alta, aproximadamente quatro vezes, do que durante o treinamento. Estudos envolvendo métodos de diagnóstico por imagem demonstraram que o músculo reto femoral é o local mais comum de lesão no quadríceps.

Cada temporada, um time de 25 jogadores no futebol profissional masculino pode esperar de quatro a cinco lesões musculares no quadril e na virilha. Os grupos musculares mais relevantes do ponto de vista da lesão são os músculos adutores e flexores do quadril, enquanto lesões em outros músculos como os músculos reto abdominal, sartório e tensor da fáscia lata são menos frequentes, ou mesmo raros. Lesões relacionadas aos músculos adutores são a segunda lesão muscular mais comum entre os jogadores profissionais do sexo masculino, representando 23% de todas as lesões musculares, e 7% todos as lesões relacionadas ao maior tempo de afastamento do esporte.

Um time de 25 jogadores no futebol profissional masculino pode, portanto, esperar cerca de três lesões musculares relacionadas aos músculos adutores em cada temporada. A taxa de lesões durante a partida é mais de seis vezes maior do que durante o treinamento. Estudos envolvendo métodos de diagnóstico por imagem documentaram que a maioria das lesões relacionadas aos músculos adutores envolvem o músculo adutor longo.

Embora menos detalhadas, as publicações sobre a sub-elite masculina ou jogadores amadores relataram achados similares na localização e taxa de lesões musculares no quadril e na virilha. Finalmente, sabe-se muito menos sobre as lesões nos músculos do quadril e da virilha em jovens e jogadores do sexo feminino, mas uma recente revisão de 34 estudos epidemiológicos sobre jogadores de futebol americano concluiu que a lesão no quadril e na virilha em geral era duas vezes mais comum em homens do que em mulheres.

Há uma falta de estudos sobre lesões musculares na perna dos jogadores de futebol, especialmente em mulheres e em homens nos ambientes não profissionais. No entanto, uma ou duas de todas as lesões musculares sofridas por um time de 25 jogadores no futebol profissional masculino estarão localizadas na panturrilha. Nesta amostra, as lesões musculares da panturrilha representaram 13% de todas as lesões musculares e 4% de todas as lesões com relançar ao tempo de afastamento do esporte. A taxa de lesão muscular da panturrilha durante a partida é quase seis vezes maior do que durante o treinamento. A lesão clássica envolve o gastrocnêmio medial, mas pouco se sabe sobre lesões do sóleo, embora essas lesões provavelmente sejam mais frequentes do que se pensava.

Segundo Ekstrand et al. a gravidade da lesão geralmente é baseada no número de dias que o jogador não pode treinar e competir devido à lesão. O tempo médio de afastamento devido a uma lesão muscular é de aproximadamente duas semanas com pouca variação entre os grupos musculares. Cerca de 10-15% de todas as lesões nos quatro grupos musculares são graves com tempo de afastamento maior do que quatro semanas. Há uma tendência de que as lesões na coxa e na panturrilha sejam mais graves do que as localizadas no quadril e na virilha.

As lesões dos músculos isquiotibiais de maior gravidade, classificadas pela ressonância magnética, estão associadas ao maior tempo de afastamento, mas parece não haver diferenças na média de afastamentos dos treinamentos entre os três músculos isquiotibiais (semimembranoso, semitendíneo e bíceps femoral).

O termo “carga da lesão” é cada vez mais utilizado na vigilância de lesões esportivas. É uma medida combinada de frequência e gravidade geralmente expressa como o número de dias de afastamento por 1.000 horas. No estudo de Ekstrand et al, verificou-se a seguinte distribuição: músculos isquiotibiais (18,2 dias de afastamento por 1000 horas), músculos da panturrilha (16,5 por 1000 horas), músculos quadríceps (10,3 por 1000 horas), músculos adutores (8,1 por 1000 horas).

Dois estudos recentes de Lesões de Clubes de Elite da UEFA delinearam as taxas de lesões musculares ao longo do tempo no futebol profissional masculino. No primeiro relatório de 1614 lesões nos músculos isquiotibiais em 36 clubes entre 2001 e 2014, houve um aumento médio anual de 2% e no segundo relato de 1812 lesões em quadris e virilhas em 47 clubes entre 2001 e 2016, houve, em contraste, uma redução média anual de 3% para lesões relacionadas aos músculos adutores. 

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