O que não sabemos sobre a corrida e as lesões!

11 de julho de 2017 | Por

Décadas se passaram desde que as primeiras pessoas começaram a correr como um meio de praticar exercícios físicos.

Os corredores do passado praticavam a corrida ainda de forma rudimentar se comparados aos conhecimentos de preparação, biomecânica e treinamento que conhecemos hoje.

Por outro lado, a corrida assumiu o papel de uma modalidade individual de abrangência mundial nos dias de hoje. As estatísticas de lesões na corrida, porém, passaram a abranger um número cada vez mais amplo de novas lesões com gravidades variadas.

Ao longo dos últimos 30 anos, apesar do grande desenvolvimento da indústria de calçados esportivos, as estatísticas de lesões continuaram elevadas. O empenho no desenvolvimento de calçados específicos, visando a melhora do rendimento e a prevenção de lesões, parece não ter surtido o resultado desejado ao longo de algumas décadas de investimentos.

Podemos raciocinar de forma simplista sobre duas hipóteses que possam explicar tal fenômeno:

  • 1a hipótese: “os tênis de corrida não protegem efetivamente contra lesões”
  • 2a hipótese: “os tênis de corrida não representam grande importância na geração das lesões na corrida.

Sabemos hoje que as variáveis que norteiam o treinamento esportivo como: os programas de treinamento, o tempo de recuperação entre treinos e os efeitos gerados na estrutura musculoesquelética, possuem importância maior na origem das lesões.

Aparentemente, os calçados de corrida não representam grande parte desta equação.

Ainda não sabemos, por exemplo, se os calçados construídos nos dias atuais são os mais adequados para a corrida, mas também desconhecemosos efeitos de longo prazo para os novos conceitos que surgem diariamente, tais como: correr com os pés descalços, calçados minimalistas, ou modificações na mecânica das passadas.

Os padrões de aterrissagem e apoio dos pés durante a corrida são essencialmente determinados por alguns fatores, tais como: a anatomia do pé e tornozelo, a biomecânica, fatores neuromusculares, a superfície de contato, a velocidade da corrida e os calçados. A aterrissagem com o toque inicial do antepé (parte anterior do pé) promove um aumento de algumas forças e diminuição de outras sobre o pé, deslocando a carga para diferentes estruturas, quando comparado ao padrão de toque inicial do retropé (parte posterior do pé).

De uma maneira geral, um corredor adota a estratégia de toque inicial do antepé quando desenvolve uma corrida em alta velocidade e sobre superfícies duras. Por outro lado, o corredor adota a estratégia de toque inicial do retropé geralmente em corridas de baixa velocidade e sobre superfícies macias.

Não sabemos atualmente se a corrida com os pés-descalços modificaria a estatística das lesões na corrida, como conhecemos hoje.

Devemos considerar que para conhecermos a estatística de lesões de uma determinada “forma de corrida”, precisaríamos avaliar sistematicamente os efeitos de médio e longo prazo de programas de treinamento e competições e não simplesmente os aspectos subjetivos de poucos corredores recreacionais.

Atualmente alguns poucos indivíduos correm com os pés descalços e atualmente não há uma razão óbvia ou tão pouco uma evidência científica para se fazer esta mudança na forma de correr.

As forças de impacto (ação e reação) existentes na corrida são importantes para o fortalecimento músculo-esquelético em geral e não há evidência conclusivas de que causem lesões se analisadas isoladamente. A avaliação sistemática de estudos científicos constatou não haver diferença significante nas dimensões das forças atuantes entre grupos de pessoas que sofreram ou não fraturas de estresse nos membros inferiores.

Muito embora a “pronação excessiva“, assim como a “supinação excessiva” tenham sido rotuladas como as grandes vilãs na geração de lesões na corrida, não sabemos ao certo quais parâmetros biomecânicos são considerados para designarmos, por exemplo, alguém como “hiperpronador” e não conhecemos evidências científicas de que a “pronação excessiva” isolada cause lesões.

De forma similar, a indústria de palmilhas tem procurado suprir uma lacuna na prevenção de lesões, que os tênis deixaram para trás, mas também encontramos fraca evidência científica de que as palmilhas possam reduzir certos tipos de lesões na corrida.

O quesito “conforto“, na escolha de um tênis para correr, não é fácil de se definir. Conforto se refere a uma combinação de sensações como: bem estar, segurança, liberdade de movimentos, ausência de pontos de maior pressão, leveza, entre outros. Por incrível que possa parecer o conforto é provavelmente a variável pessoal mais importante na escolha de um tênis.

Caro leitor, não sabemos muitas respostas para esta avalanche de perguntas que desaba sobre nós todos os dias no mundo das corridas.

Corra, estude e desenvolva seu senso crítico.

Bons treinos!