As “hérnias do esportista” e os métodos de tratamento.

9 de julho de 2017 | Por

Tratamento Não Cirúrgico

O tratamento inicial para um estiramento abdominal baixo ou inguinal consiste na modificação da atividade, medicação antiinflamatória e fisioterapia. (46)

O fortalecimento de CORE abrange exercícios de fortalecimento abdominal, lombar e quadris, além dos exercícios de alongamento dos rotadores do quadril, adutores e isquiotibiais. (1,51,56)

O objetivo do tratamento é corrigir o desequilíbrio entre os músculos estabilizadores do quadril e pelve.

O tratamento através do ultrassom terapêutico, crioterapia e massagem profunda pode também ser benéfico.

Após 4 a 6 semanas o atleta retorna às suas atividades esportivas específicas quando toleradas.

Um grupo de paciente se beneficiará com o tratamento não cirúrgico, entretanto, muitos atletas que foram adequadamente diagnosticados como portadores de “hérnia do esportista” necessitarão eventualmente de reparo cirúrgico.

Muschaweck sugere que o paciente que não apresentar melhora da dor em 4 a 6 semanas, apresenta risco aumentado para o desenvolvimento de dor inguinal crônica se não for tratado rapidamente. (41)

Outros autores consideram que manter o atleta em repouso até a próxima temporada pode mascarar os sintomas e simplesmente postergar o tratamento definitivo, além de prolongar a recuperação.

Verral e colaboradores relataram que 89% dos jogadores de futebol australiano portadores de “hérnia do esportista” retornaram aos treinamentos na temporada seguinte após três meses de repouso. (55) Entretanto somente 41% dos atletas não apresentavam sintomas ao início da temporada e 67% ao final da temporada. (55)

Tratamento Cirúrgico

A exploração cirúrgica e reparo estão indicados na falha do tratamento conservador e quando os diagnósticos diferenciais forem devidamente excluídos.

Não há consenso sobre a melhor técnica cirúrgica a ser empregada. (48)

As técnicas cirúrgicas estão classificadas em três categorias gerais: reparo primário do assoalho pélvico sem tela, reparo aberto com tela e reparo laparoscópico com tela. (53-57)

O reparo primário do assoalho pélvico com tela, pode ser subdividido em reparo primário modificado tipo Bassini com ou sem liberação do adutor longo e mínimo reparo com descompressão do ramo genital do nervo genito-femoral.

O reparo primário descrito por Meyers e colaboradores abrange a plicatura do bordo ínfero-lateral da fáscia do reto abdominal na pube ou no ligamento inguinal. (34) Em determinados pacientes, que apresentem adutores contraídos ou mais desenvolvidos, a secção dos adutores é realizada para contribuir para o reequilíbrio muscular.

Meyers e colaboradores descreveram mais de 19 diferentes síndromes que podem contribuir para a dor na região inguinal e por esta razão, apresenta uma combinação de procedimentos para cada síndrome. (34)

Em 2008, Meyers publicou sua experiência em hérnias do esportista por mais de duas décadas envolvendo mas de 8500 pacientes, (83% considerados atletas) e aproximadamente 5500 cirurgias. (35) Dentre os atletas operados, 95,3% retornaram ao esporte após três meses. A preferência de Meyers no tratamento das “hérnias do esporte” abdominais baixas tipo pubalgia é o reparo do assoalho pélvico e tratamento das lesões do adutor de forma conservadora com fisioterapia, muito embora não tenha definido as indicações precisas para os procedimentos envolvendo os tendões adutores. (34)

Muschaweck e Berger descrevem uma técnica de reparo mínimo da fascia transversalis sob anestesia local.(41,42) O procedimento foca especificamente a descompressão do ramo genital do nervo gênito-femoral, o que Muschaweck considera como a principal fonte de dor nas “hérnias do esportista”. Apenas o abaulamento ou o defeito da parede abdominal posterior é aberto e o tecido em torno não é violado. O ramo genital do nervo genito-femoral é abordado (ressecção) quando ocorrer compressão ou sinais de neuropatia (fibrose perineural). O reparo sem tensão da fáscia transversalis é realizado e um “colar muscular” é criado à partir da fáscia do oblíquo interno para proteger os nervos de compressão mecânica. Os bordos do reto abdominal são suturados novamente na pube para restaurar a orientação de tração do músculo.

Hanks descreveu seus resultados comparando dois grupos, o primeiro submetido a técnica de reparo de Meyers com release do adutor (17 atletas) e o segundo grupo através da técnica de reparo mínimo de Muschaweck (10 atletas). (59) Embora a satisfação dos pacientes nos dois grupos tenha sido semelhante, o grupo 2 apresentou tempo menor de retorno ao esporte (16.5 semanas no grupo 1 x 4.5 semanas no grupo 2).

O reparo aberto anterior com tela, análogo do método de Lichtenstein de reparo da hérnia inguinal foi desenvolvido para reconstruir o assoalho inguinal posterior sem tensão. Brown e colaboradores descreveram 97% de sucesso em 98% dos atletas de hóquei profissional submetidos ao reparo aberto com tela de politetrafluoretileno associado à ressecção do nervo ilioinguinal. (6)

O reparo laparoscópico tem sido indicado devido às suas vantagens, tais como menor dor pós-operatória e rápido retorno ao esporte.

Referências Bibliográficas

1. Ahumada LA, Ashruf S, Espinosa de-los-Monteros A, et al. Athletic pubalgia: definition and surgical treatment. Ann Plast Surg. 2005;55:393-396.

4. Albers SL, Spritzer CE, Garrett WE, Meyers WC. MR findings in athletes with pubalgia. Skeletal Radiol. 2001;30:270-277.

5. Anderson K, Strickland SM, Warren R. Hip and groin injuries in athletes. Am J Sports Med. 2001;29:521-533.

6. Brown RA, Mascia A, Kinnear DG, Lacroix VJ, Feldman L, Mulder D. An 18-year review of sports groin injuries in the elite hockey player: clinical presentation, new diagnostic imaging, treatment, and results. Clin J Sport Med. 2008;18:221-226.

7. Caudill PH, Nyland JA, Smith CE, Yerasimides JG, Lach J. Sports hernias: a systematic literature review. Br J Sports Med. 2008;42:954-964.

8. Ekberg O. Complications after herniography in adults. AJR Am J Roentgenol. 1983;140:491-495.

9. Ekberg O, Blomquist P, Olsson S. Positive contrast herniography in adult patients with obscure groin pain. Surgery. 1981;89:532-535.

10. Ekstrand J, Hilding J. The incidence and differential diagnosis of acute groin injuries in male soccer players. Scand J Med Sci Sports. 1999;9:98-103.

13. Farber AJ, Wilckens JH. Sports hernia: diagnosis and therapeutic approach. J Am Acad Orthop Surg. 2007;15(8):507-514.

14. Fon LJ, Spence RA. Sportsman’s hernia. Br J Surg. 2000;87:545-552.

16. Garvey JF, Read JW, Turner A. Sportsman hernia: what can we do? Hernia. 2010;14(1):17-25.

17. Genitsaris M, Goulimaris I, Sikas N. Laparoscopic repair of groin pain in athletes. Am J Sports Med. 2004;32:1238-1242.

18. Gilmore OJ. Gilmore’s groin: ten years experience of groin disrup- tion— a previously unsolved problem in sportsmen. Sports Med Soft Tissue Trauma. 1991;3:12-14.

19. Gilmore J. Groin pain in the soccer athlete: fact, fiction, and treatment. Clin Sports Med. 1998;17:787-793.

20. Hackney RG. The sports hernia: a cause of chronic groin pain. Br J Sports Med. 1993;27:58-62.

21. Hamlin JA, Kahn AM. Herniography: a review of 333 herniograms. Am Surg. 1998;64:965-969.

23. Hemingway AE, Herrington L, Blower AL. Changes in muscle strength and pain in response to surgical repair of posterior abdominal wall disruption followed by rehabilitation. Br J Sports Med. 2003;37:54-58.

24. Holmich P, Uhrskou P, Ulnits L, et al. Effectiveness of active physical training as treatment for long-standing adductor-related groin pain in athletes: randomised trial. Lancet. 1999;353:439-443.

27. Kluin J, den Hoed PT, van Linschoten R, Ijzerman JC, van Steensel CJ. Endoscopic evaluation and treatment of groin pain in the athlete. Am J Sports Med. 2004;32:944-949.

29. Larson CM, Lohnes JH. Surgical management of athletic pubalgia. Oper Tech Sports Med. 2002;10:228-232.

31. Lovell G. The diagnosis of chronic groin pain in athletes: a review of 189 cases. Aust J Sci Med Sport. 1995;27:76-79.

32. Lynch SA, Renstrom PAFH. Groin injuries in sport: treatment strategies. Sports Med. 1999;28:137-144.

33. Malycha P, Lovell G. Inguinal surgery in athletes with chronic groin pain: ‘‘sportsman’s’’ hernia. Aust N Z J Surg. 1992;62:123-125.

34. Meyers WC, Foley DP, Garrett WE, Lohnes JH, Mandelbaum BR. Management of severe lower abdominal or inguinal pain in high performance athletes. Am J Sports Med. 2000;28:2-8.

36. Meyers WC, Yoo E, Devon ON, et al. Understanding ‘‘sports hernia’’ (athletic pubalgia): the anatomic and pathophysiologic basis for abdominal and groin pain in athletes. Oper Tech Sports Med. 2007;15:165-177.

37. Moeller JL. Sportsman’s hernia. Curr Sports Med Rep. 2007;6(2):111-114.

38. Molsa J, Airaksinen O, Nasman O, Torstila I. Ice hockey injuries in Finland: a prospective epidemiologic study. Am J Sports Med.1997;25:495-499.

39. Morales-Conde S, Socas M, Barranco A. Sportsmen hernia: what do we know? Hernia. 2010;14(1):5-15.

40. Morelli V, Weaver V. Groin injuries and groin pain in athletes: part 1.Prim Care. 2005;32:163-183.

41. Muschaweck U, Berger L. Minimal repair technique of sportsmen’s groin: an innovative open-suture repair to treat chronic inguinal pain. Hernia. 2010;14:27-33.

42. Muschaweck U, Berger L. Sportsmen’s groin—diagnostic approach and treatment with the minimal repair technique: a single center uncontrolled clinical review. Sports Health. 2010;2:216-221.

43. Omar IM, Zoga AC, Kavanagh EC, et al. Athletic pubalgia and ‘‘sports hernia’’: optimal MRI imaging technique and findings. Radiographics. 2008;28(5):1415-1438.

44. Orchard JW, Read JW, Neophyton J, Garlick D. Groin pain associ- ated with ultrasound finding of inguinal canal posterior wall deficiency in Australian Rules footballers. Br J Sports Med. 1998;32:134-139.

46. Schilders E, Bismil Q, Robinson P, O’Connor P, Gibbon WW, Talbot JC. Adductor-related groin pain in competitive athletes: role of adductor enthesis, magnetic resonance imaging, and entheseal pubic cleft injections. J Bone Joint Surg Am. 2007;89:2173-2178.

47. Smedberg SGG, Broome AEA, Gullmo A, Roos H. Herniography in athletes with groin pain. Am J Surg. 1985;149:378-382.

48. Steele P, Annear P, Grove JR. Surgery for posterior inguinal wall defi- ciency in athletes. J Sci Med Sport. 2004;7:415-421.

49. Sutcliffe JR, Taylor OM, Ambrose NS, Chapman AH. The use, value and safety of herniography. Clin Radiol. 1999;54:468-472.

50. Swan KG Jr, Wolcott M. The athletic hernia. Clin Orthop Relat Res. 2007;455:78-87.

53. Van Veen RN, de Baat P, Heijboer MP, et al. Successful endoscopic treatment of chronic groin pain in athletes. Surg Endosc. 2007;21:189-193.

54. Verrall GM, Slavotinek JP, Barnes PG, Esterman A, Oakeshott RD, Spriggins AJ. Hip joint range of motion restriction precedes athletic chronic groin injury. J Sci Med Sport. 2007;10:463-466.

55. Verrall GM, Slavotinek JP, Fon GT, Barnes PG. Outcome of conser- vative management of athletic chronic groin injury diagnosed as pubic bone stress injury. Am J Sports Med. 2007;35(3):467-474.

57. Ziprin P, Prabhudesai SG, Abrahams S, Chadwick SJ. Transabdominal preperitoneal laparoscopic approach for the treatment of sportsman’s hernia. J Laparoendosc Adv Surg Tech. 2008;18: 669-672.

58. Zoga AC, Kavanagh EC, Omar IM, et al. Athletic pubalgia and the ‘‘sports hernia’’: MR imaging findings. Radiology. 2008;247: 797-807.

59. Minnich JM, Hanks JB, Muschaweck U, Brunt LM, Diduch DR. Sports Hernia : Diagnosis and Treatment Highlighting a Minimal Repair Surgical Technique. Am J Sports Med 2011 39: 1341